A Casa do Benin, espaço de intercâmbio entre as culturas africanas e brasileiras, completou 35 anos de criação no último sábado (6). Uma programação especial foi pensada para comemorar a data, sendo parte dela realizada esse mês e a outra em planejamento para o mês de agosto, visto que o espaço cultural, gerido pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), passará por manutenção, com foco em melhorias para os visitantes.
No dia do aniversário ocorreu o Presentysmo, um evento de conexão Brasil-África com a participação de artistas do Quênia e de Cabo Verde. Já no domingo (7), o Culinária Musical, sob o comando do afrochefe Jorge Washington, movimentou o espaço com o preparo da famosa e premiada maxixada de carne seca, ao som do pagode de Marcos Aragão e banda Aula Vaga, formada por professores de colégios e pré-vestibulares.
Ainda esse mês, deverá ocorrer uma ação inédita e em conjunto com as Casas de Angola e da Nigéria para a Semana da África, de 25 a 28 de maio. No mês de agosto, o espaço terá uma exposição fotográfica de Arlete Soares, fotógrafa e editora que trabalhou com Pierre Verger e Lina Bo Bardi na construção da casa, indo para todas as viagens realizadas no período de construção. O rico acervo incluirá fotografias tanto do Benin como da abertura do espaço aqui em Salvador.
O equipamento cultural, que funciona de terça a sexta, das 10h às 17h, e aos sábados, das 9h às 16h, na Rua Padre Agostinho Gomes, 17, Pelourinho (próximo ao Taboão) recebe uma média de 600 a 700 visitas mensais. Essa média mensal é ampliada em períodos de atividades artísticas e culturais. Semanalmente, grupos de escolas, tanto de unidades municipais, como estaduais e federais de universidades e instituições de fora vão conhecer a Casa do Benin.
“Para mim, a importância do espaço se traduz na reação das pessoas que vêm aqui. Elas ficam deslumbradas e têm uma reação de aproximação com o acervo, como se já conhecessem as peças, porque são itens que já estão inseridos no cotidiano soteropolitano. Então, eu acho que a importância está representada nessa relação de identificação e pertencimento que as pessoas sentem”, opina Igor Tiago Gonçalves, produtor cultural e gestor da Casa do Benin.
História – Inaugurada em 6 de maio de 1988 – ano do centenário da abolição da escravatura em território brasileiro, a Casa fez parte de um projeto que pretendia estreitar relações entre Salvador e a África e que foi encabeçado pelo fotógrafo autodidata, etnólogo, antropólogo e escritor franco-brasileiro Pierre Verger e pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. “A intenção era que a Casa do Benin fosse uma casa intercambista, recebendo estudantes beninenses para residir aqui em Salvador, enquanto desenvolviam as suas pesquisas e que a Casa do Brasil, lá no Benin, também recebesse estudantes soteropolitanos para realizar trabalhos artísticos e intelectuais”, lembra Gonçalves.
O espaço fica em um casarão, que faz esquina com a Rua Padre Agostinho Gomes e a Avenida José Joaquim Seabra, no coração do Centro Histórico. Hoje, a Casa do Benin é um equipamento cultural de valorização, fruição e de preservação das culturas negras e afrodiaspóricas, com um acervo que conta um pouco da visão cultural beninense, a partir de peças trazidas desse país africano.
Acervo – O acervo tem coleção de máscaras, estatuetas, instrumentos de caça e instrumentos musicais. É um acervo vasto da cultura beninense que se relaciona muito com a cultura da Bahia e de Salvador, dentro de um processo de fluxos e refluxos.
“Recebemos eventos gastronômicos e culturais nessa linha. As exposições que acontecem aqui, hoje, são exposições que dialogam com as culturas negras e afrodiaspóricas. Estamos restabelecendo vínculos que foram perdidos ao longo do tempo, e essa é uma relação que nós queremos fortalecer”, conta o gestor do espaço.
Entre o material, é possível destacar a máscara Geledé, que está presente na marca de divulgação da Casa do Benin. São máscaras utilizadas por mulheres em rituais femininos na República Beninense e em outros territórios da África. O local também conta com um presente de um presidente do Benin quando esteve em Salvador, que é uma escultura de um mestre de vodum, e também com tecidos africanos que contam a história dos reinados do antigo Reino do Daomé, em que cada símbolo significa um rei e uma história do reinado.
Estrutura – No casarão, encontra-se a Galeria Pierre Verger, onde estão expostas as peças do acervo permanente com obras beninenses; a Sala de Exposição Lina Bo Bardi, que recebe mostras temporárias; e o Auditório Gilberto Gil, local de realização de eventos e oficinas de pequeno porte voltados para a comunidade.
No pátio, existe o Espaço Etno-gastronômico Angélica Moreira e a “Tatassomba”, uma réplica de edificações existentes no Benin, desenvolvida pela arquiteta Lina Bo Bardi, feita de barro e com teto de palha. Também há uma outra edificação, toda em cimento queimado – uma das assinaturas da arquiteta –, onde está situada uma sala multiuso e um terraço.
Reportagem: Priscila Machado/Secom