Há 100 anos, jornais baianos comemoravam o centenário da Independência do Brasil na Bahia e exaltavam heróis e heroínas desse feito importante para a emancipação política do país. Porém, ao citar as heroínas, a imprensa baiana apenas fala de Joana Angélica e Maria Quitéria, mas não menciona a atuação da itaparicana Maria Felipa na expulsão das tropas portuguesas do Brasil.
A Secretaria de Cultura (SecultBa) e a Secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi) decidiram recriar algumas das capas de jornais da década de 1920 com o intuito de incluir a figura de Maria Felipa e, assim, fortalecer sua existência e protagonismo. A ação é em homenagem ao Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, – comemorado neste 25 de julho – e integra o conjunto de atividades de celebração ao Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia.
As imagens de recriação de capas de jornais como “Diário de Notícias” e “O Imparcial” serão publicadas nas redes sociais da SecultBa e da Sepromi, nesta terça-feira, visando mostrar a importância da visibilidade e da participação ativa da mulher negra na conquista da liberdade e da democracia ao longo da história.
O objetivo é a dimensão política e simbólica do olhar. Dimensão esta entendida como elemento fundamental de disputa por parte do Governo do Estado para o fortalecimento da cultura baiana. “Só teremos um futuro com democracia quando conhecermos e estabelecermos o protagonismo de fato aos nossos símbolos históricos de luta pela liberdade. Reconhecer e dar visibilidade a Maria Felipa como uma das figuras centrais em uma das principais lutas históricas do país, tem uma dimensão simbólica e também reparatória”, destaca o secretário de Cultura Bruno Monteiro.
“O 25 de julho é uma data para refletir sobre a situação das mulheres negras em solo latino americano. Então, nada mais oportuno do que homenagear Maria Felipa, um símbolo do protagonismo negro popular e feminino na nossa história e uma referência nos dias atuais. Precisamos superar a invisibilidade histórica e ressignificar a presença das mulheres negras na memória do bicentenário da independência do Brasil na Bahia”, salienta a Secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais, Ângela Guimarães.
A ideia da ação intersecretarias tem o intuito de demonstrar que, ao longo da história, mulheres negras têm sido fundamentais para a construção de um país mais justo e democrático. Afinal, muitas dessas mulheres são invisibilizadas ainda hoje.
A coordenadora de comunicação da SecultBa, Juliana Dias, explica que não é só mais uma publicação de homenagem, mas sobretudo um chamado para a sociedade priorizar um olhar atento para a importância da mulher negra no Brasil. “Nesse tempo em que a comunicação é fundamental na sociedade, reconhecer o que os jornais não fizeram 100 anos atrás e destacar o papel de Maria Felipa é dar um recado de que mulheres negras não serão mais invisibilizadas”, conclui a coordenadora.
Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha – 25 de Julho foi instituído e reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, durante o primeiro encontro dessas mulheres que aconteceu em 1992.
Em 2014, durante o mandato da Presidenta Dilma Rousseff, foi instituída a lei 12.987 que definiu na mesma data o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, homenagem a Tereza de Benguela, uma liderança quilombola que é exemplo de força e de organização para milhares de mulheres que sobrevivem à dura realidade e às sequelas da colonização.