O ambiente social e cultural de Salvador, cidade cosmopolita desde sua fundação, ainda hoje nos remete a uma forte religiosidade que se desenvolveu aqui, desde a chegada dos estrangeiros europeus às terras dos índios Tupinambás.
A religião católica dos colonizadores mesclou-se, com o passar do tempo, com as crenças indígenas e com a religião dos negros africanos escravizados que aqui chegaram. Os costumes tradicionais da cidade confirmam essa afirmação:
Embora de acordo com o último censo os adeptos da religião de matriz africana, o Candomblé, fossem uma pequena minoria, a grande maioria dos baianos veste cores brancas nas festas religiosas do catolicismo e também às sextas-feiras, dia de Oxalá, o Orixá maior.
Os preceitos católicos, sua ética e suas festas deram o ritmo e o tom do cotidiano no Brasil em seus períodos colonial e imperial. As procissões e as festas religiosas, atividades urbanas mais antigas da cidade, serviam para afirmar o imenso poder temporal e religioso da Igreja Católica e reuniam toda a população sem distinção de posição social nem cor de pele.
O cancioneiro popular diz que Salvador tinha 356 igrejas católicas. Uma para cada dia do ano. De fato, hoje são muitas: segundo a Arquidiocese de São Salvador, 372.
Não havia engenho sem capela própria e capelão particular. A educação foi durante longo tempo monopólio dos padres jesuítas. Até mesmo o nascimento de uma cidade, em geral, fazia-se a partir da construção de uma capela e da adoção de um santo ou do santo padroeiro do dia, do qual geralmente a cidade recebia o nome.O próprio clero, sabiamente, apoiava a realização das festas do Candomblé.
A variedade de igrejas, templos, terreiros e a diversidade de crenças conferiram a Salvador o status de cidade marcada pela religiosidade. Existem também igreja católica maronita, sinagogas, igrejas presbiterianas, mesquitas e outros templos, convivendo em harmonia.
O Candomblé, religião de matriz africana, Religião dos Orixás, foi estabelecido pelos negros escravizados trazidos ao Brasil de forma legal, entre 1549 e 1850, continuando, entretanto, até 1888, quando foi abolida a escravatura. O Candomblé teve sua estruturação real, no final do século XVII e início do século XIX, estruturação mantida até hoje pelos Terreiros tradicionais.
Portanto uma religião antiga na cidade, também praticada, muitas vezes, por pessoas que se dizem católica.
Inicialmente restrita aos escravos durante muito tempo, sua prática foi proibida pela Igreja Católica e perseguida pela polícia de inúmeros governos.
O candomblé é muitas vezes confundido com Umbanda e Macumba e é considerado uma religião anímica, ou seja, que cultua a alma (anima) da Natureza, representada por seus reis e deuses.
Na cidade de Salvador, existem 2.230 terreiros registrados na Federação Baiana de Cultos Afro-brasileiros.
Os negros trazidos de Angola e do Congo foram os primeiros escravos a chegarem à Bahia.
Em seguida vieram também do Golfo do Benin, região conhecida pela triste denominação de Costa dos Escravos. Eram das regiões habitadas pelos Dahomeanos (os Jêjês) e pelos Ioruba, em sua maioria da nação Ketu (os Nagôs). Os Jêjês e Nagôs e seus rituais de adoração aos deuses, parecem ter servido de modelo às etnias já instaladas na Bahia. Representados aqui no Brasil pelos candomblés Kétu, possuem a religião como elemento central de suas vidas. Os Nagô-ou Ioruba estabeleceram uma rica cultura, sobretudo religiosa, nas terras da Baía de Todos os Santos.
Os negros escravizados tinham religião própria, o candomblé; música própria, a chula, o lundu; dança própria, praticada no samba de roda; culinária própria, que deu origem à culinária baiana, inventando diversos pratos com base no azeite de dendê e leite de coco (tudo com muita farinha de guerra dos índios tupinambá e tapuia), e sobremesas, desenvolvendo o que veio de Portugal; luta própria, a capoeira, e a brincadeira, o maculelê; vestimenta própria, aliando as já tradicionais indumentárias africanas aos tecidos portuguesas e à “moda” da corte, além de uma mistura de línguas, mesclando Ioruba com português.
Para que não deixassem de praticar seus cultos e rituais, diversos aspectos da religião afro-brasileira foram camuflados pelos negros desde o início. Os Orixás – Deuses ou entidades cultuadas no candomblé – eram ocultados com nomes e imagens de santos católicos com os quais buscavam similitude com as características, história ou elementos representativos. As festas eram realizadas nos mesmos dias, entre outras coisas. Daí surgiu o sincretismo religioso.
Os negros escravos que vieram para o Brasil saíram de vários pontos do continente africano: da costa ocidental, entre o Cabo Verde e o da Boa Esperança; da costa oriental, de Moçambique; e mesmo de algumas regiões do interior. Por isso, possuíam os mais diversos estágios de civilização.
O grupo mais importante introduzido no Brasil foi o sudanês, que, dos mercados de Salvador, se espalhou por todo o Recôncavo. Desses negros, os mais notáveis foram os iorubas ou nagôs e os gêgês, seguindo-se os minas.
Mas o maior símbolo de religiosidade, do sincretismo religioso e talvez o maior ícone cultural de Salvador e da Bahia é a “baiana” tradicional, reconhecida como patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2005.
A imagem e indumentária que trouxeram da África sudanesa representa a miscigenação do negro africano e sua religião com os costumes portugueses.
Com seus trajes pomposos, torços (Turbante, de origem árabe), “panos da costa”, batas (blusa comprida e solta), saias rodadas (brancas ou de estamparia colorida) com muitas anáguas rendadas e engomadas, pulseiras e colares (fios de contas) na cor do seu orixá, a baiana tradicional, de santo, do acarajé, a soteropolitana, está em todas as festas populares e religiosas, lavando as escadarias das igrejas católicas e também vendendo acarajé e outras iguarias nas esquinas da cidade.
As comidas baianas, “de azeite”, são em sua maioria “comida de santo” – comidas preparadas nas festas religiosas dos candomblés para cada Orixá. O Óleo ou Azeite de Dendê é extraído do fruto da palmeira “dendezeiro”.
Trazido para o Brasil durante a escravidão, o dendê passou a fazer parte da culinária típica de Salvador e de toda a Bahia. Utilizado em diversas receitas, o dendê está presente do acarajé à farofa. E na sua forma original, algumas variações são sempre bem-vindas. Entre elas, a farofa, feita com manteiga ou dendê é um ótimo acompanhamento da cozinha baiana.
Texto: Salvador Destination